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Crónica de Opinião: “Cansado de mim”! – 2

José Luís Carvalhido da Ponte

26 Agosto 2021, 9:00

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A expressão “eu sou eu e a minha circunstância”, do filósofo espanhol Ortega & Gasset tem sido (ab)usada, a propósito e a despropósito, em inúmeras situações. Na verdade, o que o autor pretende dizer¬-nos é que a nossa leitura da realidade depende da forma como fomos moldados e do jeito que apr(e)endemos o que nos rodeia, o que nos leva a concluir que a minha realidade não é, ou pode não ser, a realidade visionada pelo Outro.

Na verdade, recordar o Love Story, que degustamos numa sala cheia e abraçados ao amor da nossa vida, é um exercício diferente do que faz quem visiona o filme, em casa, sozinho e afundado num sofá, depois de um dia cansativo e desesperante. Por outro lado, se não soubermos apalavrar a realidade não a dominaremos. Se não dissermos a uma criança o que é um semáforo e que só pode atravessar a passadeira quando este estiver verde, ela fá-lo-á em qualquer momento. É que a realidade não é única, pelo que se entende que a mesma paisagem pintada por pintores diferentes terá cores, silhuetas e leituras diferentes.

Aqui reside o talvez maior desafio do homem: querer dominar toda a sua circunstância para se entender, para se (re)conhecer. Para encontrar a resposta do “Quem sou eu?” e poder partir para o mundo.

Quando Narciso se debruça sobre a fonte,surpreende-se com a beleza do rosto que nela se espelha e mergulha a mão para “suspender o real a fim de o imobilizar, suspender o real no mesmo momento do seu duplo[1]. Assim, o mitógrafo procurou traduzir a ideia de que o Homem busca passar através de si próprio a fim de se encontrar com o seu duplo hologáfico. O Homem busca reunir o seu Eu (adn) ao seu Ego Socialis, resultante da leitura da sua circunstância. Mas a nossa circunstância é tão excessiva que temos sempre “demasiado viajes por hacer, demasiadas experiencias por vivir, demasiadas comidas por probar, demasiadas personas que deberíamos conocer, demasiadas redes sociales a las que acudir[2]. Para obviarmos todos estes desafios, quase eliminamos o assombro e o mundo que visitamos é o que as redes sociais e o google nos mostram. Assim, quando chegamos a um restaurante ou à praça central de uma cidade, nada nos espanta porque tudo investigamos antes de partir e as pedras são as que vimos, e as mesas as que admiramos e … fizemos um percurso, mas não viajamos. Muito antes do bébé nascer já lhe sabemos o sexo. Muito antes da viagem, ciberviajamos e o real que se nos oferece não nos assombra. No seu lugar há, ou pode haver, como que um vazio, um “déjà vu”, um cansaço de nós.

José Luís Carvalhido da Ponte

P.S.: Voltarei uma vez mais a este tema

 

[1]Simulacros e Simulação, Jean Baudrillard, Trad Mª João Costa Pereira, Relógio D’Agua, 1991, p 133

[2]Filosofía Ante el Desánimo, José Carlos Ruiz, Editorial Planeta, 2021, Barcelona, p 22

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