Bispo de Viana alerta contra “adormecimento” perante a guerra
23 Dezembro 2025, 15:49
Na mensagem para o Ano Novo e Dia Mundial da Paz 2026, o bispo de Viana do Castelo alerta para o risco de “adormecimento” perante os conflitos que marcam o mundo e apela a um compromisso renovado com a construção da paz.
Recordando a expressão do Papa Francisco sobre uma “guerra mundial aos pedaços”, o D. João Lavrador sublinha que a violência não se limita aos cenários de guerra, estendendo-se às comunidades, às famílias e ao espaço público.
O bispo dirige votos de feliz Ano Novo a toda a diocese, com uma atenção particular aos mais pobres, doentes, presos e pessoas em situação de solidão.
“Mensagem de Ano Novo e Dia Mundial da Paz/2026
«O Senhor volte para ti os Seus olhos e te conceda a paz» (Num. 6, 26) «O Concílio, explicando a verdadeira e nobilíssima natureza da paz, e uma vez condenada a desumanidade da guerra, quer apelar ardentemente para que os cristãos, com a ajuda de Cristo, autor da paz, colaborem com todos os homens no estabelecimento da paz na justiça e no amor e na preparação dos instrumentos da mesma paz.» (GS., 77).
No início de cada novo ano, celebramos a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus e o Dia Mundial de oração, de reflexão e de compromisso pela paz. Ainda no contexto da celebração do Natal de Jesus de Nazaré que é anunciado pelos Anjos como Aquele que traz a Paz aos homens por Ele amados, somos convidados a aprofundar o mistério da Encarnação sublinhando o papel de Maria de Nazaré como Mãe do Filho de Deus e, por isso, exaltada como Mãe de Deus e a reconhecer em Jesus de Nazaré, que nasce na humildade da nossa natureza, Aquele que nos indica os caminhos que conduzem à Paz verdadeira e definitiva.
Tal como nos recomenda a doutrina da Igreja, a paz é um dom divino e uma tarefa a exigir da parte dos homens e mulheres de cada época o esforço por alcançar esta paz.
Neste sentido, somos, hoje, convidados a abrir-nos à revelação de Deus que no Seu Filho «nascido de Mulher» nos oferece o caminho seguro para trilharmos as sendas da paz; mas igualmente somos interpelados, lendo os Sinais dos Tempos de hoje, a discernir a vontade de Deus que nos acompanha nos nossos esforços em construir a paz.
1. À luz do Evangelho somos convidados a analisar os tempos em que vivemos.
É urgente despertarmos para a causa da paz frente à violência e à guerra. Sim, o pior que nos está a acontecer é o desleixo e adormecimento perante os graves conflitos que nos rodeiam. Habituarmo-nos à situação de violência como se ela não existisse é das piores situações para todos nós hoje.
Urge reconhecermos o que o Papa Francisco apelidou de uma «guerra mundial aos pedaços». Na verdade, o mundo está em guerra e ninguém fica imune aos seus efeitos.
A Europa, o Médio Oriente, a Ásia e a África, tal como a América, incluem focos de guerra que tendem a alastrar-se. Contudo, a situação de violência vai para além da guerra e atinge países, comunidades, famílias e vizinhanças. A própria comunicação social não está imune ao dar lugar à violência e à agressão. Esta situação exige novos caminhos que conduzam à paz.
2. O Papa Leão XIV convida a edificar a paz «desarmada e desarmante», cujo tema é «a paz esteja com todos vós: rumo a uma paz “desarmada e desarmante”».
O Concílio Ecuménico Vaticano II exorta a que se preste uma atenção privilegiada à edificação da paz. Começa por dizer que «a paz não é ausência de guerra; nem se reduz ao estabelecimento do equilíbrio entre as forças adversas, nem resulta duma dominação despóticа» (GS.,78).
Por isso, a Igreja reconhece que ela floresce a partir «da ordem que o divino Criador estabeleceu para a sociedade humana, e que deve ser realizada pelos homens, sempre anelantes por uma mais perfeita justiça» (GS. 78).
Deste modo, se «o bem comum do género humano é regido, primária e fundamentalmente, pela lei eterna» (GS. 78); igualmente, no que diz respeito às suas exigências concretas, «está sujeito a constantes mudanças, com o decorrer do tempo» (GS., 78). Como afirma o Concílio, «por esta razão, a paz nunca se alcança duma vez para sempre, antes deve estar constantemente a ser edificada» (GS. 78). Na verdade, «a mensagem evangélica, tão em harmonia com os mais altos desejos e aspirações do género humano, brilha assim com novo esplendor nos tempos de hoje, ao proclamar felizes os construtores da paz “porque serão chamados filhos de Deus” (Mt. 5,9)» (GS. 77).
Daí o apelo a que todos os cristãos em união com todos os homens e mulheres que procuram a paz, façam todo o esforço para condenar a desumanidade da guerra, e com a ajuda de Cristo se esforcem por estabelecer a paz assente na justiça e no amor e se abram aos instrumentos da mesma paz.
Sigamos o apelo do Papa Leão XIV que na mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano nos exorta dizendo que «em todo о mundo, é desejável que cada comunidade se torne uma “casa de paz”, onde se aprende a neutralizar a hostilidade através do diálogo, onde se pratica a justiça e se conserva o perdão».
E, acrescenta dizendo que «hoje, mais do que nunca, é preciso mostrar que a paz não é uma utopia, através de uma criatividade pastoral atenta e generativa».
Na mesma mensagem, refere o Santo Padre que «quando tratamos a paz como um ideal distante, acabamos por não considerar escandaloso que ela possa ser negada e que até mesmo se faça guerra para alcançála». Aliás, «parecem faltar as ideias certas, as frases ponderadas, a capacidade de dizer que a paz está ao nosso alcance». Realmente, «se a paz não for uma realidade experimentada, guardada e cultivada, a agressividade espalha-se, tanto na vida doméstica, quanto na vida pública».
A tarefa da paz interpela a todos e cada um dos cidadãos, nomeadamente os cristãos, e é o processo continuo, de uma particular atenção e cuidado permanente.
3. Cristo é a nossa Paz
O itinerário que leva à paz exige dos cristãos uma adesão íntima ao Evangelho e na condição de discípulos de Jesus Cristo uma aprendizagem da vida do Mestre. Mas igualmente faz parte da missão evangelizadora.
Sim, Jesus Cristo não só proclama Bem-aventurados os que promovem a paz, porque são chamados filhos de Deus (cfr. Mt. 5,9), mas igualmente envia os seus Apóstolos com a missão de edificarem uma nova humanidade, livre do pecado e do mal, reconciliada e aberta fraternidade autêntica de filhos de Deus”.



























